Você sabe por que está escrevendo?
Andei me fazendo essa mesma pergunta e a resposta foi mais complexa do que eu esperava.
Oi, more!
Como tá tudo por aí? Vou ser bem direta sobre como as coisas estão aqui: ando tendo dias muito ruins e isso desde que o ano começou. Para vocês terem uma ideia:
Estou tendo crises sensoriais todas as semanas devido às obras perto de onde eu moro, principalmente dos meus vizinhos de lado
Passei por um procedimento que me deixou com cólica pelo mês de Janeiro inteiro
Fiquei super ansiosa com o prazo de um trabalho em Fevereiro devido ao tempo que estava indisposta no mês anterior
Já comecei Março exausta, mas ainda sim, tentando retornar para as redes e começar a newsletter (e isso tem sido um desafio)
Basicamente, sempre que eu acho que terei um dia bom, alguma coisa acontece para modificar as coisas e como ando muito mais sensível do que o normal, é sempre algo aparentemente pequeno que causa um prejuízo que dura dias.
É uma situação que parece que não vai acabar tão cedo e mesmo assim, quando começou o ano eu fiz o meu típico planejamento de carreira, tentando prever quando eu iria publicar livros novos.
Isso incluia planejar um livro específico até Abril, para poder escrevê-lo no Camp Nano de 2025.
Acontece que, pela coleção de desesperança que venho fazendo e depois de passar por mais uma situação dolorosa, eu percebi que não tem como eu pensar em produzir arte do jeito que eu estava pensando até então, porque:
Não me sinto bem, nem criativa
Percebi que aquele livro que eu tinha escolhido não ressoava comigo
E é sobre a segunda questão que eu quero falar aqui, mas primeiro, vou fazer um leve desvio que vai fazer mais sentido mais adiante.
O live-action da Branca de Neve e seus muitos problemas podem ser resumidos em um só
Essa sexta-feira eu assisti o novo filme da Branca de Neve. Tinha visto muito das polêmicas sobre ele e um influenciador especifico falando mal do filme, então fiquei curiosa para entender se o live-action era mesmo esse desastre todo.
Não vou dar spoiler do que acontece, mas acabou que eu concordei bastante com as coisas que tinha ouvido: não se trata de uma boa adaptação.
Na verdade, parece um filme bem diferente do original. A impressão que eu tive é que a sala de roteiro do live-action não aproveitou muito o que tinha, pelo contrário: estavam preocupados em reaver as críticas da animação de 1937.
E até aí tudo bem. Eu realmente acho justo querer atualizar um filme da década de 30 para a realidade de 2025.
O problema foi como foi feito, já que para solucionar essas características datadas eles introduziram novos temas. Muitos novos temas. Tantos que ficou difícil comprar as subtramas e entender qual era a mensagem final.
Para mim, se você fala de muitas coisas, corre o risco de você não falar de nada com profundidade e isso só prejudica sua história.
No caso, se preocuparam muito com o que aconteceria, mas não tanto com como aconteceria e menos ainda com o porquê aconteceria.
E é sempre bom saber o porquê antes de começar uma história.
Sobre não saber os “porquês”
Voltando para mim, eu fiquei por um bom tempo tentando planejar o livro que falei. Ele partiu de um ponto bem legal e não quero largar a ideia, mas estou desde novembro ou dezembro tentando planejar essa história.
Até agora consegui algumas poucas coisas como os dois personagens principais e meia premissa. Sério, todo esse tempo e não pensei em quase nada.
Ao contrário do roteiro de Branca de Neve, que chegou a várias subtramas sem desenvolver nenhuma bem, o meu problema era não conseguir chegar a ideia nenhuma.
No fundo, as duas coisas tem a ver justamente com isso: o “porquê” da história.
Escrever um livro é algo muito pessoal. Uma coisa que parte da gente e a qual o combustível está dentro de nós. Mas eu nem cogitei olhar para essa parte.
E quando a gente está escrevendo, a gente precisa pensar no “porquê” (ou tema central). Ele é um elemento fundamental da escrita e vai ditar tudo na nossa história: objetivo dê protagonista, os obstáculos, o conflito, ê narradore, os símbolos, tudo.
No fim das contas, é esse conhecimento que vai nos auxiliar a pensar na mensagem da nossa história e sem ela, as coisas podem se perder.
Sobre nossos porquês ressoarem
Eu não cheguei a entregar algo ruim, mas também não consegui planejar minha história direito.
Para ser sincera, acho que, no fundo, meu “porquê” até existe, mas ele não é forte o suficiente para esse momento e isso é algo que é muito importante levar em consideração.
Quando eu percebi que, com minha prioridade sendo minha estabilidade emocional, eu não poderia seguir aquele planejamento e que isso significava desistir temporariamente do livro, me senti mal, mas também, livre.
Não importava o meu “porquê”, o que importava era se esse “porquê” fazia sentido no momento e quando olhei dentro de mim, vi que não.
E sinceramente, não sei se seria capaz de encontrar um porquê dentro de mim que justifique escrever em meio a instabilidade emocional que estou, apesar de estar aberte se algum deles vier como uma possibilidade de cura e restauração.
Do “porquê” para o “o quê” e não o contrário
Existe uma metodologia chamada de Círculo Dourado para administrar projetos e enquanto escrevia esta newsletter, eu inclusive encontrei um TED Talk do criador explicando o conceito, mas vou simplificar aqui.
Imagine um círculo dentro do outro e dentro do círculo menor, um outro menor ainda. Dentro de cada um dos espaços que se formam, de dentro para fora, temos escrito “porque”, “como” e “o quê”.
A ideia é que muita gente acaba pensando primeiro nas bordas, depois no meio, mas esquecem do miolo.
Porém, como acho que está ficando claro para você, para construir (ou reconstruir) uma boa história, nós precisamos pensar ao contrário: primeiro o porquê, depois o como e por último, o quê.
Desse modo não só nos aproximamos de uma narrativa coesa, como podemos identificar mais facilmente se uma história faz sentido para o momento que estamos vivendo.
Exercício de casa:
Pegue uma folha de papel e escreva seu “porquê”. Depois disso, pense no “como” e anote como você chegará a isso e por fim, repense o “o quê”, discorrendo sobre o que se trata sua história.
Tudo bem se você já tiver um projeto em andamento, o importante é fazer esse esforço e tentar identificar se seu livro passou por todas essas etapas.
Se você gostou…
Indique essa newsletter para escritories LGBTQIAP+ ou aliades que queiram desenvolver a própria escrita e comente no app qual o tema principal da sua história.
Nos vemos de novo sem ser esse domingo, o outro!
Melhores dias virão! Mesmo a partir de uma animação (sou das antigas) decepcionante, uma newsletter bem legal foi produzida. Não tenho pressa por uma boa leitura, então, aguardo o seu novo livro!
Gostei muito. Espero que você em breve ache o porque de sua nova história . 💜